A Coletânea Muntu apresenta 55 textos entre poesias, contos e crônicas. São narrativas em vários gêneros e estilos oferecendo ao público leitor um exercício estético literário antirracista a anunciar ficções com eixos temáticos desenvolvidos em um vasto horizonte de personagens negras além de maniqueísmos de mal e bem, complexificados e humanizados.
Realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC), a obra preenche lacunas referentes a participação de autores negros e negras no mercado editorial e oferece subsídios para a implementação da Lei 10639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino de história da África e dos negros.
O jeito de ser e de viver da gente preta do DF e entorno e as relações raciais estão presentes nas páginas dessa publicação com traços estilísticos variados, insubmissos, a revelar espelhos de identidades estereotipadas na maioria das letras canônicas desse país.
A literatura promove a representação estética da experiência humana, pode colaborar na criação de outros cenários de realidade além de contar as histórias culturais, desafiando ou revelando assimetrias sociais e raciais e confrontando ainda caixas binárias e típicas de gênero.
Quilombos, quebradas, córregos, navios negreiros, terreiros e infâncias passeiam nos textos. São diásporas revisitadas, memórias de Áfricas, sonoridades de raízes étnicas negras e sublimes trazendo paisagens fraseadas e rítmicas aos ouvidos dos leitores de forma a proporcionar encontros com sinfonias outras.
Nesse livro encontraremos páginas Planaltinas a surpreender retinas geograficamente cansadas e rotineiras. Chegarão também letras ceilandenses retumbantes, como musas exaltadas.
Por outro lado, falando de subjetividades, trajetórias maternas vitoriosas são recuperadas, ainda que ceifadas pelo capitalismo, brotando lembradas pelos filhos e filhas que romperam cadeias e levaram outros saberes até a conquista de canudos em espaços acadêmicos.
Além do Cristianismo, contrações sobre as religiosidades de matrizes africanas revelam outros mundos onde deusas negras e travestis cantam, rezam e dançam.
Contra a supremacia do machismo e do feminicídio que ceifa vidas diariamente a força ancestral se impõe palavra, verbo carne repleto de ações e justiça.
Travestis mais do que vivas, longânimas habitem os dias e tragam esperança assentando suas tronqueiras em templos sagrados.
A Coletânea Muntu traduz um campo ficcional fértil no que se refere a contribuição no horizonte dos estudos e pesquisas na literatura brasileira contemporânea ao propor outros exercícios de representação. Leiam. Falem em voz alta. É templo. O tempo é sagrado e espiralar.
É preciso ouvir essas narrativas onde outras subjetividades ainda vilipendiadas também amam, vivem, não só pra nascer, morrer e trabalhar. É preciso ficcionalizar na seara do gozo, do bem viver e dos sonhos. Esperem o inesperado.
Prefácio por Cristiane Sobral (mãe, atriz, escritora, dramaturga e mestre em teatro).
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